Apesar de avanços em tecnologia florestal, potencial da silvicultura de precisão ainda é pouco explorado
Somente 39% das empresas florestais utilizam sistemas de precisão em seus implementos, de acordo com estudo nacional
29 junho 2022
Atualmente, o Brasil é o maior exportador de celulose do mundo, tendo cerca de nove milhões de hectares de florestas plantadas segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os avanços da área nos últimos anos são claros, com o país sempre inovando, sobretudo nos cultivos dos gêneros Eucalyptus e Pinus. No entanto, para não perder essa competitividade, é preciso investir em mais tecnologia, principalmente no âmbito da silvicultura.
De acordo com o estudo “Levantamento do Nível de Mecanização na Silvicultura 2020/2021”, realizado pelo Instituto de Pesquisas e Estudo Florestais (IPEF) com 20 grandes empresas do setor, somente 39% dos implementos utilizados em operações silviculturais apresentam sistema de precisão. O relatório reforça que, embora a colheita e o transporte de madeira tenham evoluído significativamente nas décadas anteriores, a silvicultura ainda está longe de exercer toda a sua potencialidade.
Um dos desafios que contribui para esse cenário é a duração do cultivo florestal — que, ao contrário da cultura agrícola, demonstra retorno apenas após anos ou décadas. Além disso, o mercado de silvicultura é muito menor: no Brasil, são 65 milhões de hectares em plantações agrícolas, contra apenas 9 milhões nas fazendas florestais. Isso também colabora para que não haja uma cultura forte de tecnologia no mercado, considerando que diversas empresas não veem esse investimento como uma prioridade.
Mas, apesar dos desafios que rodeiam o setor, o Brasil continua sendo destaque internacional. “Começamos a atender o setor de silvicultura em 2006 e vemos as mudanças que ele passa desde então. O seu potencial de ganhos com o uso de inovações digitais é enorme, como aumento de eficiência e lucratividade”, aponta Bernardo de Castro, presidente da divisão de Agricultura da Hexagon. A empresa, que desenvolve soluções digitais para operações agrícolas e florestais, já registrou o monitoramento de mais de 5 milhões de hectares de floresta plantada em todo o mundo com suas tecnologias.
Produtividade no plantio e na aplicação de insumos
Assim como aconteceu na agricultura, a silvicultura de precisão surgiu para maximizar a produtividade na fazenda a partir de ações e intervenções realizadas com exatidão. Um de seus instrumentos, por exemplo, é o piloto automático, que possibilita a navegação automatizada de tratores, máquinas e implementos florestais. Dessa forma, garante-se que operações como plantio e aplicação de insumo aconteçam na rota planejada, com alinhamento e minimização da sobrepassagem no solo.
A precisão também pode ser obtida por ferramentas como controladores de plantio, que reduzem falhas, evitam situações de riscos e fazem melhor espaçamento entre as mudas através do controle de seções nas máquinas. “Na Hexagon, por exemplo, além do controlador de plantio padrão, desenvolvemos uma solução focada especialmente no trabalho com escavadeiras, mesmo em áreas de declive e aclive”, aponta Bernardo de Castro.
Com auxílio de sensores que indicam a posição e orientação da máquina e a inclinação das suas hastes, o software aponta o deslocamento e posicionamento necessário para que a colocação de mudas ou a abertura de covas sejam feitas dentro do alvo. “Apesar dos avanços do mercado nos últimos anos, o plantio com escavadeiras ainda apresenta um índice de falhas de cerca de 30%. O HxGN AgrOn Assistente de Plantio foi desenvolvido especialmente para mudar esse cenário”, complementa o presidente da divisão de Agricultura da Hexagon.
Outro tópico inerente à silvicultura de precisão é a preocupação com as características específicas de cada planta e da região em que ela se encontra. Uma maneira de agir nessa frente é com o apoio de controladores de insumos. Hoje, já existem tecnologias que regulam e automatizam a aplicação de fertilizantes, herbicidas e iscas formicidas de forma inteligente, evitando desperdícios, sobreposições e falhas na operação. Sistemas inovadores mostram inclusive a cobertura da área da aplicação em tempo real, permitindo ajustes ao longo das operações.
Porém, para que essas ferramentas sejam aplicadas com máxima efetividade, é fundamental que o setor continue avançando na obtenção e na análise de dados georreferenciados — o que se constitui um desafio, sobretudo por conta da falta de conexão nas áreas florestais. Sem cobertura de internet, perde-se a oportunidade de aproveitar esses equipamentos de precisão em sua totalidade, já que não há como transmitir dados e corrigir problemas com agilidade. Por isso, é necessário lançar o olhar sobre a conectividade dessas zonas, estudando os pontos que prejudicam a chegada de sinal, pensando em maneiras de combatê-los e desenvolvendo soluções mais eficazes.